O brasileiro perde cerca de duas horas por dia no trânsito. O dado alarmante é revelado ainda maior em grandes capitais, como São Paulo – aproximadamente três horas. No entanto, um projeto de mobilidade em corporações promete não apenas melhorar o trânsito, mas também contribuir com o meio ambiente e o bolso do trabalhador. É o Green Mobility, ou carona sustentável, em português.
A ideia, que parece acabar com todos os problemas do estresse diário das cidades e ainda da poluição e dos efeitos que ela causa à vida da população, veio da cabeça de um consultor de Marketing. Lincoln Paiva ainda morava na Europa quando percebeu que os relatórios de empresas mostravam que as emissões vindas de meios de transportes, principalmente de funcionários, eram muito grandes.
De volta ao Brasil, ele percebeu que o cenário era parecido. “Imagina que em São Paulo o setor de transportes é responsável por mais de 90% das emissões e mais de 30% dos deslocamentos são de trabalhadores em carros. Se nada for feito será muito difícil diminuir as 7 mil mortes anuais no Estado decorrentes de gases tóxicos veiculares”, afirmou o especialista.
Além disso, ele explica que há vantagens também financeiras: “É um investimento muito rentável para empresa, reduzindo custo de logística e distribuição, táxi, e reembolso de quilômetros. Além de diminuir o custo de combustíveis e condução no boldo do funcionário”.
No entanto, Paiva explica que a modalidade ainda está começando no Brasil. Segundo ele, as empresas ainda não enxergam como um projeto para aumentar a rentabilidade financeira e a qualidade de vida dos funcionários. “A carona é parte (5%) de um programa de Mobilidade Sustentável Corporativa mais amplo, que visa mapear os deslocamentos de toda empresa e reduzir os impactos econômicos, sociais e ambientais”, disse.
Mesmo assim, ele alerta que a experiência deve estar diretamente atrelada às companhias: “A chance de um programa isolado falhar é de 85%”. As corporações que investem na Carona Sustentável têm outra dificuldade: o envolvimento dos trabalhadores. Por isso, algumas chegam a oferecer horários mais flexíveis, folgas e benefícios aos que aderem ao trabalho.
Modelo eficaz
A empresa BASF, com sede em Ludvigshaffen, na Alemanha, tem o maior polo industrial petroquímico de toda a Europa e conta com 55 mil trabalhadores na cidade que possui pouco mais de 100 mil habitantes.
Com as atuações da companhia, há dez anos o cenário era de um município destruído pela poluição e com um trânsito carregado. Contudo, com a mudança de hábitos e inserção de um modelo de mobilidade, o panorama se inverteu: uma linha de trem foi construída, 22 mil bicicletas foram distribuídas, 400 km de ciclovias foram feitas e a carona corporativa foi implantada.
De acordo com Paiva, a cidade agora é outra. “Percorri pelo local e percebi que a qualidade de vida e a redução do trânsito são brutais”, explicou.
Profissão
A sustentabilidade e a preocupação de empresas com relação ao meio ambiente se tornaram temas interessantes no mercado de trabalho. O consultor especializado pode encarar o setor como uma profissão de futuro.
Entretanto, para o especialista, é importante levar em consideração que o trabalho não é simples e fácil. “Às vezes um projeto como este, da carona corporativa, vai atingir apenas 10% dos funcionários. É preciso pensar o que fazer com os outros 90% que não podem participar”, afirmou.
Além do mais, segundo ele, é preciso encarar que não é apenas no trabalho que a preocupação com a natureza deve existir. Ele sempre seguiu uma vida sustentável e acredita que é natural seguir dessa forma: “Na minha vida, vejo isso de forma pragmática. Por que eu deveria ficar duas horas no trânsito se posso chegar ao meu trabalho em 20 minutos de metrô? Eu valorizo meu tempo, prefiro gastá-lo com outras coisas”.
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